terça-feira, 28 de setembro de 2010

*ELZA SOARES CONTA SOBRE SUA GRAVIDEZ NA INFÂNCIA*


Pergunto que imagens guarda da infância, e Elza responde:
"Gravidez, lata d'água, pipa, bola de gude, esteira de dormir
e um saco de farinha que virou meu cobertor". Ela descia o morro
para ajudar a mãe, a lavadeira Rosária, a buscar roupa com a
clientela na praça da Bandeira. Quando faltava comida, a menina
mamava em cabras, catava garrafas para vender, surrupiava frangos
"que pareciam sem dono" ou ajudava um bicheiro a anotar o jogo.
Ela se alfabetizou sozinha, antes dos 6 anos.

O primeiro flash que lhe saiu da memória, a maternidade precoce,
ocorreu aos 12 anos, no casamento com Alaúrdes Soares, 22 anos,
ajudante de caminhoneiro que fazia frete para a pedreira onde o
pai dela, Avelino Gomes, trabalhava. Estava levando a marmita
do pai, quando Alaúrdes tentou abraçá-la. Elza se esquivou, ele
insistiu, os dois se atracaram rolando pela ribanceira. Quando
chegaram embaixo - ela toda arranhada -, Avelino apareceu e
intimou o rapaz a se casar, supondo um estupro. Elza pediu
socorro à mãe, disse que não acontecera nada, mas dias depois
estava no altar, com documento forjado para atingir maioridade.
Teve sanfoneiro, o noivo até que era bonito, mas Elza não se
sentiu casada.

Meu marido me encontrava empinando pipa na rua, com a comida
por fazer, e o pau quebrava", diz. "Mas nunca fui de apanhar
quieta: ele vinha, eu revidava, era uma confusão."

Se Elza não queria sexo, Alaúrdes adotava o mesmo expediente
violento. Ela resistia até cair vencida. Tiveram sete filhos.
Um faleceu ao nascer, dois morreram de fome e tuberculose.
Elza trabalhava, contra a vontade do marido, numa fábrica de
sabão e depois na recepção de um manicômio. Lia a Revista do
Rádio, cantava para os colegas, vivia doida por uma chance
de virar cantora e guinar o destino.
(Revista CLAUDIA)
(Imagem da internet)

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