segunda-feira, 15 de outubro de 2012

*INÊS E PEDRO: QUARENTA ANOS DEPOIS*

É tarde. Inês é velha. Os joelhos de Pedro não o deixam caçar e passa o dia todo em solene toada: "Mulher que eu tanto amei, o javali é duro! Já não há javalis decentes na coutada e tu perdeste aquela forma ardente de temperar os grelhados!" Mas isto Inês nem ouve: mas só o aparelho está mal sintonizado, mas também vasto é o sono e o tricô de palavras do marido escorrega-lhe, dolente, dos joelhos que outrora eram delícias, mas que agora uma artrose tornou tão reticentes.
Inês é velha, hélas, e Pedro tem cãibras no tornozelo esquerdo. E aquela fantasia peregrina que o assaltava, em novo (quando a chama era alta e o calor ondeava no seu peito), de ver Inês em esquife, de ver as suas mãos beijadas por patifes que a haviam tão vilmente apunhalado: fantasia somente, fulgor que ele bem sabe ser doença de imaginação. O seu desejo agora era um bom bife de javali macio (e ausente desse horror de derreter neurônios). Mais sábia e precavida (sem três dentes da frente), Inês come, em sossego, Uma papa de aveia. (Encontrado em uma revista e imagens da internet)

Um comentário:

xistosa, josé torres disse...

Pois... pois...
Quem gosta de coisas tenrinhas tem que saber procurá-las. Não pode deixar prá mulher escolher... (rsrsrs)