terça-feira, 6 de julho de 2010

*A IDÉIA DE ENVELHECER*


A IDÉIA DE ENVELHECER a irrita. Choca-se toda vez que escuta
frases do gênero: "A velhice é linda". Não é. A velhice é
apenas o trecho derradeiro da estrada, o prelúdio do adeus.
Um adeus que que lhe soa absurdo. Partir por quê? Festejou
o sexagésimo segundo aniversário em maio com a promessa
íntima de continuar recusando o envelhecimento. Não encontra
verbo mais adequado: recusar. A prática corriqueira de
pilates, um coquetel de vitaminas pela manhã, o equilíbrio
à mesa e tratamentos dermatológicos lhe servem de aliados
na batalha que, cedo ou tarde, perderá. As evidências da
derrota insinuam-se em onomatopéias cruéis.

Barulhos inusitados que avançam sobre territórios onde o
silêncio costumava reinar. O pescoço, do nada, emite um
clac-clac. A coluna de súbito se rebela e grita plá!. O peito
resmunga um tchu-tchu, fruto de discreta arritmia cardíaca.
As pupilas, por sorte, seguem quietinhas. Mas quem as
examinar de perto concluirá que não dilatam nem brilham
como antigamente. - Criou dois filhos, viveu intensas
relações conjugais, trabalhou horrores, viajou bastante e...
se esqueceu de tudo. O melhor: esqueceu os detalhes de
tudo. Um cineasta afirmaria que a memória de Gabi não tem
zoom. Capta o essencial, o panorâmico, e descarta as
minúcias. Por lembrar pouco, a apresentadora carrega a
ilusão de que está sempre começando. Gosta de se iludir.

(Palavras de Marília Gabriela)
www.revistabravo.com.br
(Imagem da net)

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